NOTA CONJUNTA
ANPAE, FÓRUM GOIANO DE EDUCAÇÃO INFANTIL,
ANPEd, CEDES,
ANFOPE, MIEIB
Contra o corte de recursos para a construção de unidades de Educação Infantil
Ao tomar posse em seu segundo mandato, a presidenta Dilma Rousseff anunciou o lema
de governo “Brasil, Pátria Educadora”, o que indicaria uma possível prioridade da
educação nas políticas públicas. No entanto, em 22 de maio do ano corrente, o governo
anunciou um pacote de ajuste orçamentário que incluiu o contingenciamento de 19,3%
no orçamento previsto para o Ministério da Educação. Um corte de R$ 9,2 bilhões,
colocando o MEC como a segunda pasta mais afetada, em termos percentuais.
Imediatamente, as reações contrárias ocupam a cena, com notas públicas de várias
entidades tais como Fórum Nacional da Educação Pública, Anped, CNTE, SBPC dentre
outras. O governo, porém, segue adiante, aplicando os cortes em todas as áreas
educacionais. As instituições federais de ensino, a pesquisa e a pós-graduação com seus
projetos de responsabilidade financeira da União se viram às voltas com a redução
abrupta, levando à suspensão de ações inerentes ao próprio desenvolvimento das suas
funções precípuas e ao comprometimento da continuidade de programas de formação de
professores e de obras em andamento.
E agora, é anunciado na mídia* que 37% (R$ 3,4 bilhões) do total de cortes do MEC
eram destinados à construção de unidades de educação infantil, além de quadras
esportivas nas instituições educacionais. Tal redução afetará indiscutivelmente a criação
de novas vagas para atender às crianças de zero até seis anos de idade. E, portanto,
dificultará o cumprimento da obrigação constitucional de universalizar o atendimento à
pré-escola até o ano de 2016, conforme determina a Emenda Constitucional n. 59,
reafirmada no Plano Nacional de Educação (2014), bem como a realização da meta de
ampliação do acesso à creche para 50% das crianças de 0 a 3 anos de idade, até o ano de
2024.
O atendimento à faixa etária de educação infantil no país é historicamente deficitário.
Todas as pesquisas e estatísticas mostram a demanda gigantesca por creche –
aproximadamente 10 milhões de crianças de até 3 anos. Na pré-escola ainda restam
12,1% das crianças de 4 e 5 anos sem vagas. Apenas esses números seriam suficientes
para mostrar que criar novas vagas, construir novas unidades educacionais é necessário
e urgente. Não se trata de incremento do atendimento, mas de cumprir com o básico!
Desafio gigantesco, como é o nosso Brasil “gigante por natureza”. Como cumpri-lo,
sem construir novas instituições? E como fazer novas construções sem os recursos
financeiros? O que o Ministério da Educação tem a dizer sobre isso? Até o momento, a
sociedade em geral, e a comunidade educacional especificamente, está recebendo
informações esparsas, quase a conta-gotas; a cada dia um novo anúncio, por vezes
grande imprensa, e mesmo informações oficiais são posteriormente “negadas” ou
amenizadas como ocorreu no episódio Capes**.
Cortar os recursos para a construção de unidades de educação infantil significa
prejudicar um processo já altamente complexo no que se refere ao atendimento da
Educação Infantil pelos municípios, conforme estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, de 1996. A dimensão dos desafios de expansão e de melhoria da
qualidade da primeira etapa da Educação Básica tem levado à criação de programas
nacionais, como o Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos
para Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância), para prestar assistência
financeira ao Distrito Federal e aos municípios, visando garantir o acesso de crianças a
creches e pré-escolas da rede pública. A implementação do Programa, considerado
fundamental para a expansão e melhoria da qualidade da Educação Infantil, porém, já
vem enfrentando inúmeros problemas que prejudicam o cumprimento de suas metas.
Não necessitamos de mais um obstáculo que será colocado com o ajuste fiscal!
Nesse cenário, manifestamos nossa indignação: se mesmo com o aporte financeiro da
União não se está assegurando o direito das crianças à Educação Infantil, qual será o
quadro sem esses recursos? Mais uma vez, as crianças serão excluídas e abandonadas?
Por tudo isso, manifestamos repúdio ao corte e reivindicamos que o MEC continue
cumprindo seu papel na garantia dos direitos das crianças brasileiras à educação infantil
desde o nascimento, como determina a Carta Magna do país. E, ainda, interpelamos o
Ministério para que se pronuncie oficialmente, publicizando a real distribuição dos
cortes nos vários setores educacionais.
24 de julho de 2015.
* http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/07/1658820-dilma-corta-verba-para-pre-escola-ecreche-vagas-eram-promessa-eleitoral.shtml
(22/07/2015) Acesso em 22 de julho de 2015.
http://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/690/dilma-descumpre-promessa-eleitoral-e-cortaverba-para-pre-escola-e-creche
(22/07/2015) Acesso em 23 de julho de 2015.
** Após anunciar via ofício às instituições o corte de 75% nos recursos do Proap que custeia os Programas
de Pós-Graduação nas Universidades Federais, em meio à pressão da comunidade acadêmica e
científica, o MEC divulgou nota assegurando que serão repassados 90% dos recursos e que nenhuma
bolsa de estudo será interrompida
(http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=21467:capes-garanterecurso-para-pos-graduacao-e-pesquisa&catid=225&Itemid=86).
Acesso em 23 de julho de 2015.
Assinam a presente nota:
Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)
Fórum Goiano de Educação Infantil (FEI-GO)
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd)
Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES)
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE)
Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB)
Fórum de Educação Infantil do Acre, Fórum Alagoano de Educação Infantil
Fórum Amapaense de Educação Infantil, Fórum Amazonense de Educação Infantil, Fórum Baiano de Educação Infantil, Fórum de Educação Infantil do Ceará, Fórum Permanente de Educação Infantil do Espírito Santo, Fórum de Educação Infantil do Maranhão, Fórum Matogrossense de Educação Infantil, Fórum Permanente de Educação Infantil do Mato Grosso do Sul, Fórum Mineiro de Educação Infantil, Fórum de Educação Infantil do Pará, Fórum de Educação Infantil da Paraíba, Fórum de Educação Infantil do Paraná, Fórum de Educação Infantil de Pernambuco, Fórum de Educação Infantil do Piauí, Fórum de Educação Infantil do Estado do Rio de Janeiro, Fórum de Educação Infantil do Rio Grande do Norte, Fórum Gaúcho de Educação Infantil, Fórum de Educação Infantil de Rondônia, Fórum de Educação Infantil de Roraima, Fórum Catarinense de Educação Infantil, Fórum Paulista de Educação Infantil, Fórum de Educação Infantil de Sergipe, Fórum de Educação Infantil de Tocantins, Fórum de Educação Infantil do Distrito Federal
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